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O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM O PREÇO DO MEL?
O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM O PREÇO DO MEL?

O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM O PREÇO DO MEL?

Neste ano de 2023 muitos apicultores, entrepostos, e até exportadores, tem se perguntado o porquê da redução do preço do mel no mercado. Diversas teorias aparecem para tentar justificar o movimento do mercado, mas a verdade é que não há uma única explicação, a resposta também não é simples, e precisa ser analisada com detalhes e ao longo do tempo. Nesse artigo, tentarei trazer uma explicação lógica e baseada em dados e informações públicas para entender o que está acontecendo no mercado.

Alguns dos fatores mais pontuados são o processo antidumping nos Estados Unidos da América , a valorização e desvalorização do dólar, a disponibilidade de mel no campo, entre outros. Todos esses fatores influenciam o atual cenário, mas, de forma isolada, não conseguem trazer uma resposta que justifique a atual queda nos preços.

Vejamos, a princípio, o processo antidumping nos EUA, comumente apontado como vilão dos preços. Como é de conhecimento do mercado, em 2021 duas associações americanas de apicultores acusaram Argentina, Brasil, Índia, Ucrânia e Vietnã de prática de dumping nas suas vendas de mel a granel aos EUA. No processo movido, pediam que taxas de importação fossem impostas ao mel importado pelos EUA desses países. Durante o ano em que o processo ocorreu, eu tive a oportunidade de conversar com diversos apicultores, e em meu diagnóstico da situação, sempre pontuei um conceito econômico muito elementar: quando agregamos custo a um determinado produto, a demanda dele cai. A queda na demanda poderia significar uma queda nos preços, visto que a oferta de mel existia. Assim, o diagnóstico que fiz à época era que os preços poderiam sofrer uma queda, mas nada que fosse assustador. Cheguei a ponderar que a demanda havia crescido muito, e que não acreditava numa queda substancial dos preços. De lá para cá, muitas coisas aconteceram, e diversas delas não previstas ou imaginadas por mim:

Primeiro, que o resultado do processo aplicou taxas altas para todos os países acusados: do maior para o menor, Vietnã ficou com 412,29%, Ucrânia ficou com 18,68%, Argentina com 16,06%, Brasil com 9,38%, e Índia com 6,48%. Nesse cenário, algo inusitado ocorreu no mercado: o preço do mel dos principais fornecedores dos EUA subiu drasticamente por conta das taxas, mas o Brasil ficou com uma das taxas mais baixas. Ou seja, se antes o Brasil precisava brigar de igual para igual contra Argentina, Ucrânia, Vietnã, em termos de preço, hoje temos uma tarifa alfandegária nos EUA que, em igualdade de preços comerciais, tornam os concorrentes mais caros do que nós. Quem está um pouco mais competitivo do que o Brasil é a Índia, que ficou com uma taxa de 6,48% (2,90% abaixo da nossa). Ainda que isso seja significativo, não é suficiente para explicar a variação de preços no Brasil, e é uma diferença que se torna muito menor quando consideramos o custo de fretes da Índia para os EUA versus do Brasil para os EUA. Portanto, diferentemente do que inicialmente se previa, a ação antidumping dos EUA não teve o impacto nos preços que inicialmente se imaginou.

Segundo, o valor do dólar é sempre utilizado como balizador para preço do mel. A lógica é bastante clara: mais de 70% do mel produzido no Brasil é exportado, logo, quando há variação no dólar, o preço do produto vendido em dólar gera mais ou menos reais, e isso impacta diretamente o preço no campo. Tal como no caso do dumping, esse fator explica parte, mas não o todo. Vejamos a lógica do comércio internacional do mel, sem entrar nos diversos detalhes que existem: os exportadores vendem o mel a um determinado valor aos seus clientes no exterior. Após considerarem os seus custos fixos e variáveis (estrutura, controle de qualidade, laudos, frete, etc.), chegam a um valor máximo que podem pagar pelo que chamamos de “mel no campo”. Evidentemente, quando há uma desvalorização no dólar, esse limite é reduzido, pois os mesmos dólares viram menos reais. Quando o dólar valoriza, esse limite sobe. O câmbio afeta diretamente o apicultor pois, diferente do que se imagina, as margens por kg dos exportadores não são tão grandes quanto se imagina. De acordo com os dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, o preço médio de exportação do mel no ano de 2023 é de US$ 3,53/kg. Considerando uma taxa média de câmbio na faixa dos R$ 5,05, temos que o valor médio do produto exportado é de R$ 17,83/kg. Esse preço tem que pagar pelos fretes, mão de obra, documentação, garantia, perdas, crédito dado aos clientes, impostos diversos (não sobre a venda, no caso de exportação, mas demais impostos que as empresas pagam), despesas comerciais, o lucro do exportador, e todos os demais custos que compõe um negócio. O valor do mel no campo representa uma parcela bastante significativa do preço total do produto exportado, de modo que quando há variação da taxa do dólar, o valor do mel no campo sente o impacto (para mais, ou para menos). O fato é que, desta vez, não tivemos nos últimos meses uma variação do câmbio que justificasse o movimento de preços sentido no mercado pelos apicultores. Assim, o fator “câmbio”, de forma isolada, não explica a situação como um todo.

O fator demanda é onde precisamos focar nossas atenções, tentando entender o que tem influenciado ela. O que temos observado, a nível mundial, é uma queda na demanda do mel. Isso é até compreensível, quando observamos a demanda de 2017 a 2022.

 

O “Gráfico 1” mostra como se comportaram as exportações nesse período:

GRÁFICO 1: Exportação de Mel por ano, em toneladas


                GRÁFICO 1: Exportação de Mel por ano, em toneladas

 

É interessante notar que houve uma explosão na demanda em 2020 e 2021, que foram os anos mais duros da pandemia do COVID-19. Durante esses dois anos, a população mundial, em geral, isolou-se e alterou drasticamente seus hábitos alimentares. Reduzimos o convívio social, passamos a nos alimentar primordialmente em casa, e nossa preocupação com a saúde aumentou. Nesse panorama, o mel, que é um produto intimamente ligado à saúde e mundialmente conhecido pelos benefícios que oferece ao sistema imunológico, teve sua demanda bastante aumentada. Durante o ano de 2022, o mundo começou aos poucos a ganhar a batalha contra o COVID. Vacinas foram mundialmente disponibilizadas, as cepas do vírus vieram cada vez mais fracas e, aos poucos, nossa vida passou a voltar ao normal. Nossos hábitos voltaram a ser mais próximos do que eram no período pré-pandemia: começamos a sair novamente, nos socializar, viajar (a turismo ou a trabalho). Com isso, a demanda pelo mel também foi sentida.

Não estou sugerindo que as pessoas passaram a cuidar menos de sua saúde, mas sim que os hábitos voltaram ao que eram. Se o consumidor americano ou europeu (principal destino do mel brasileiro) estava habituado a almoçar em casa e consumir mel em todas as refeições, agora que ele voltou à sua rotina de trabalhar e almoçar fora de casa, o seu consumo de mel vai ser reduzido, ainda que ele permaneça preocupado com sua saúde. Quando consideramos esse pequeno exemplo a nível de uma sociedade inteira, é natural que a demanda seja impactada. Não estou sugerindo, também, que a demanda de mel vá continuar caindo sem que exista um limite. Apenas acredito que nós estamos voltando a um cenário de hábitos de consumo “pré-pandemia”, e que a demanda de mel observada em 2020 e 2021 foi, de fato, algo fora do normal. Tal demanda atípica fez com que os preços, no período, também variassem de forma atípica: o aumento de preços do “mel no campo” em 2020 e 2021 pode ser claramente explicada pela alta demanda durante a pandemia (vide salto na exportação naquele ano), aliado à variação do dólar no mesmo período. Para se ter ideia, o dólar PTAX (taxa média do dólar, de acordo com as informações do Banco Central) saiu de US$ 1 = R$ 4,26 em janeiro de 2020 e chegou a US$ 1 = R$ 5,93 em maio do mesmo ano; uma variação de 39% num período de pouco mais de três meses. O dólar alto, aliado a uma demanda repentina e não programada por mel formaram o cenário ideal para um aumento de preços no campo como foi visto. Olhando para trás e observando tudo o que aconteceu, é razoável entender que aquilo que vivenciamos no mercado em 2020 e 2021 fizeram parte de um contexto específico.

Atualmente, a variação dos preços do “mel no campo” advém principalmente desse novo comportamento do consumidor, e não está vinculada ao dólar ou ao processo antidumping nos EUA. Se fosse meramente a taxa de câmbio, a redução de preços seria mais tímida, e não estaria acompanhada da queda na demanda. Também não é o processo antidumping, visto que as vendas a outros países que não são afetadas por esse processo também foram impactadas.

 

O “Gráfico 2” mostra que as exportações aos EUA sofreram menos do que as exportações a outros locais, fazendo cair por terra aqueles que advogam que o processo antidumping seria o responsável pelas variações de mercado atuais:

 


                GRÁFICO 2: Exportações de Mel no 1º Trimestre de 2022 x 2023

As exportações aos EUA, que tem tarifa antidumping contra o Brasil, caíram 15%, enquanto as exportações para outros locais, que não tem tarifa antidumping contra o Brasil, caíram mais de 38%.

Mas essa queda na demanda não é algo sentido apenas no Brasil. Países como Nova Zelândia, Polônia, Hungria também viram seus volumes caírem. Índia e Ucrania ainda não divulgaram seus números de exportação de 2022. A nossa vizinha Argentina cresceu 5% em 2022, mas vem colecionando altos e baixos há alguns anos, e não teve aumento das exportações durante a pandemia.

A pergunta que precisamos responder é o que esperar para o futuro. Não havendo nenhuma grande mudança no cenário mundial, acredito que as exportações encontrem seu equilíbrio próximo do período pré-pandemia. Isso significaria volumes exportados variando entre 36.000 e 42.000ton em 2023, aproximadamente. Os preços tendem a se ajustar a essa nova demanda pós-pandemia.

Mas, como estamos falando de futuro, a única certeza é que nada é certo. Ainda assim, continuo crendo que temos um campo fértil para valorização do nosso produto no Brasil e no exterior. Os brasileiros que inseriram o mel no seu hábito alimentar tendem a permanecer com ele. O mel orgânico brasileiro continua sendo um grande diferencial que temos. O sabor e qualidade do nosso produto são incríveis: o nosso mel tem essa característica maravilhosa de conquistar quem o experimenta. Portanto, confio que o cenário para o futuro tende a ser muito parecido com o que todo apicultor vivencia diariamente: ainda que enfrentemos algumas ferroadas, no final das contas é o sabor doce do mel que vai nos marcar.

 

Renato Azevedo

Tesoureiro e Responsável por Informações de Mercado – ABEMEL

Abril de 2023

 
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